MANIFESTO*
O que é a Gafieira BA?
Um pouco por acaso e um pouco por intuição, comecei a dançar. E assim encontrei um caminho, uma linguagem, um lugar aconchegante, de abraços. Depois a dança virou uma necessidade. Agora eu danço até quando estou parada, danço dormindo, sonho que danço, danço e adormeço.
Esse é o meu ponto de partida, o motor de todas as minhas ações: uma necessidade, mas ao mesmo tempo uma potente vontade de mudar. Um espírito tanto rebelde quanto alegre.
Porque sinto que a dança é um fator de transformação, uma fonte de energia que provoca a metamorfose dos corpos que dançam. Até que esse movimento acaba afetando todo o ser. Libertando. Dançar é uma forma de ser livre.
E é por isso que eu me disponho a trabalhar para o contágio.
Um contágio tão forte que nos permita superar nossos corpos individuais, a fusão em um corpo coletivo que acolha as nossas diferenças.
Uma dança sem limites.
A dança é uma festa mágica.
Quem dança teve a sorte de aprender a voar. É alguém que morre de vontade de contagiar com o impulso da decolagem.
Eu sou esse homem comum que persegue fins mágicos. Acho que se o mundo fosse um grande salão de baile, seria um mundo mais feliz.
Esse é o meu discurso.
A linguagem do samba, diferente daquela que usamos todos os dias, me permite dizer coisas que eu nunca tinha falado antes.
E nessa conversa entre corpos eu me redescubro, renasço.
Acredito na gafieira como lugar de encontro entre homens e mulheres; entre os que pensam que nasceram para dançar e os que acham que são perna de pau; entre os que acabaram de começar e os que já sabem muito, entre os professores e os alunos; os de uma escola e os de outra; entre os mais tradicionais e os menos; os que estudaram com todos e os que casaram com um; os que não podem parar e os que (sem saber por quê ou sabendo) pararam de dançar mas sentem que os estamos chamando; entre os que viveram a história da gafieira em Buenos Aires e podem contar, e os que querem ouvir e também os que só querem dançar.
Acredito na coincidência entre todos eles, nós, apesar das diferenças.
O espírito do samba de gafieira é dançar numa gafieira.
Sou um grupo de nomes, homens, mulheres, corpos reunidos para criar uma rede de limites difusos, sem dentro e fora.
Sonho em formar uma grande comunidade nacional do samba de gafieira. E vou atrás desse sonho.
Por isso proponho um espaço de reunião e de festa. Onde fiquem todos do mesmo lado, numa primavera da gafieira em Buenos Aires.
Quero parir um lugar de encontro ao qual ninguém possa nem queira ser indiferente. Uma explosão, uma bomba de alegria e movimento para os desenhistas do espaço.
Meu projeto também é solidário e inclusivo, economicamente desinteressado.
Trabalho por amor. Danço por amor. Amo e quero que todos se apaixonem.
* - “Manifestar”: declarar ou expressar uma opinião, idéia ou sentimento; revelar; tomar parte em uma manifestação ou reunião de gente.
- “Manifesto”: texto que uma pessoa ou grupo de pessoas tornam público com o fim de expor seus conceitos acerca de um assunto, geralmente de caráter político ou artístico.
No campo da arte, é a expressão reivindicativa que simboliza a vontade de um grupo de artistas ou movimento.
(Trad: Cecilia Nascimento)
